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"DIFICILMENTE OS PREÇOS VOLTARÃO AOS PATAMARES DE CINCO OU DEZ ANOS ATRÁS", DISSE O ENGENHEIRO RICARDO GOMES SOBRE O CACAU

"DIFICILMENTE OS PREÇOS VOLTARÃO AOS PATAMARES DE CINCO OU DEZ ANOS ATRÁS", DISSE O ENGENHEIRO RICARDO GOMES SOBRE O CACAU
Por: Redação O Tabuleiro
Dia 17/02/2025 12h25
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Mesmo com oscilações no mercado global, a tonelada de cacau deve se manter acima dos valores históricos recentes

A missão diplomática organizada pelo Itamaraty, com apoio da ApexBrasil e do Ministério da Agricultura e Pecuária, levou integrantes da cadeia produtiva do cacau do Brasil à África Ocidental. O objetivo foi um intercâmbio de conhecimentos com comunidades de Gana, Costa do Marfim e Senegal, os maiores produtores mundiais de cacau. Entre os participantes, esteve Ricardo Gomes, engenheiro agrônomo, produtor de cacau e gerente de desenvolvimento do território Arapyaú, que compartilhou suas percepções sobre a experiência.

Ricardo Gomes destacou que os países visitados regulam o mercado mundial de cacau, influenciando diretamente os preços na bolsa. "Hoje, qualquer coisa que aconteça lá interfere diretamente no preço do cacau no mundo inteiro. O que vivemos hoje, com um patamar de preço mais alto, é resultado direto das condições climáticas nesses países", explicou.

As mudanças climáticas são um dos principais desafios enfrentados pela cacauicultura mundial. "A incidência de pragas e doenças aumenta com os extremos climáticos, sejam chuvas excessivas ou secas prolongadas. Além disso, a lavoura africana é antiga e enfrenta um alto grau de desmatamento, que altera o regime de chuvas e afeta a produção", acrescentou.

Sobre a possibilidade de o Brasil recuperar os níveis de produção anteriores à crise da vassoura-de-bruxa, Ricardo apontou que não há uma resposta definitiva. "A Bahia, maior produtora de cacau do Brasil, tem hoje cerca de 430 mil hectares cultivados. No ano retrasado, o Brasil produziu 204 mil toneladas, mas no ano passado esse número caiu para 175 mil toneladas devido à influência climática. A previsão para este ano varia: se as condições climáticas forem favoráveis, poderemos ter superávit de cacau, mas, se houver eventos climáticos adversos, voltaremos ao déficit de 500 mil toneladas registrado no ano passado. Isso explica os altos preços atuais do cacau."

Mesmo com oscilações, Ricardo acredita que dificilmente os preços retornarão aos patamares de cinco ou dez anos atrás. "Hoje, a tonelada de cacau está em torno de US$ 10 mil. Se cair, deve ficar entre US$ 6 mil e US$ 7 mil, mas dificilmente voltará aos US$ 3 mil de antes."

Um dos pontos que mais chamou a atenção na África foi a adoção tardia de sistemas agroflorestais. "Por muito tempo, o cacau foi cultivado em pleno sol, com desmatamento intenso. Agora, com as mudanças climáticas, eles estão plantando árvores frutíferas e nativas para dar resiliência à lavoura. Isso é algo que já fazemos no Brasil há quase 300 anos com o sistema cabruca, e que agora está sendo adotado na África", comentou Ricardo.

O investimento na cacauicultura é um diferencial. "O cacau é essencial para a economia africana, e os governos investem em pesquisa, inovação, assistência técnica e financiamento. No Brasil, esses investimentos ainda são limitados, e isso impacta diretamente nossa competitividade", alertou.

A falta de mão de obra também é um desafio compartilhado entre Brasil e África. "Os jovens estão deixando o campo em busca de oportunidades urbanas, e a média de idade dos trabalhadores rurais é de quase 60 anos. Precisamos de incentivos para formação técnica e melhores condições de trabalho para atrair novas gerações para a cacauicultura", destacou.

Em relação à mecanização, Ricardo observou que, diferentemente do Brasil, onde pequenas máquinas poderiam otimizar a produção, na África predominam ferramentas rudimentares. "Aqui, equipamentos de pequeno porte poderiam facilitar a vida dos produtores, especialmente os de pequena escala. Esse é um dos gargalos que discutimos na Câmara Setorial Nacional do Cacau. Precisamos de financiamento para modernização e automação, principalmente nos sistemas agroflorestais."

Uma diferença significativa está na comercialização do cacau. "No Brasil, o mercado é livre: o produtor pode vender seu cacau diretamente para a indústria ou intermediários. Já na África, o governo compra toda a produção e define o preço pago aos agricultores. Oficialmente, eles dizem que os produtores recebem até 70% do valor do mercado, mas, na prática, ouvimos relatos de que esse percentual é bem menor", relatou Ricardo.

Ricardo acredita que o Brasil tem potencial para retomar sua posição de destaque na produção global de cacau. "Temos mais floresta, mais tecnologia e um modelo produtivo mais sustentável. Mas para crescer, precisamos de investimentos em pesquisa, inovação, assistência técnica e financiamento adequado. A missão à África foi um passo importante para chamar atenção do governo federal para a relevância do cacau na economia brasileira e para a necessidade de políticas públicas que incentivem o setor."

Com regras cada vez mais rigorosas da União Europeia para importação de produtos livres de desmatamento, o Brasil pode se tornar uma referência em cacau sustentável. "Se investirmos no modelo agroflorestal, aliado à ciência e tecnologia, temos tudo para sermos grandes de novo e voltarmos a ser uma potência na cacauicultura mundial", concluiu Ricardo Gomes.

Confira a entrevista completa:

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Resposta de Paulo Cezar Sanjuan Ganem

Parabéns vila nova pela excelente entrevista com o engenheiro agrônomo Ricardo Gomes

★ ★ ★ ★ ★ Em 18-02-2025 às 00-44h 5
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