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ESTUDO ANALISA FABRICAÇÃO CASEIRA DE CERVEJA COMO FENÔMENO SOCIAL

ESTUDO ANALISA FABRICAÇÃO CASEIRA DE CERVEJA COMO FENÔMENO SOCIAL
Por: Redação O Tabuleiro
Dia 02/04/2019 22h09

ESTUDO ANALISA FABRICAÇÃO CASEIRA DE CERVEJA COMO FENÔMENO SOCIAL

A linhada à tendência internacional de estímulo ao consumo de slow food (que se contrapõe ao conceito de fast food), a produção de cervejas artesanais no Brasil começou nos anos 1990 e foi vigorosamente expandida ao longo da última década.

“Minas Gerais encampou esse movimento, e Belo Horizonte, com mais de 40 microcervejarias registradas, é considerada a ‘Bélgica brasileira’”, lembra o professor Alessandro Rodrigo Pedroso Tomasi, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO) da UFMG.

A consolidação da fabricação caseira como prática de lazer, de acordo com o professor, desperta muitos interesses. “Os produtores artesanais configuram um grupo social com características ­pessoais e hábitos parecidos, a exemplo dos skatistas, surfistas e outras tribos”, compara.

Em outubro passado, Alessandro Tomasi defendeu, no ­Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da EEFFTO, a tese Da panela ao copo: a produção de cerveja caseira como prática de lazer.

O pesquisador acompanhou oito processos de fabricação e entrevistou os cervejeiros. De acordo com ele, a produção “na cozinha de casa” é um artifício de enfrentamento da cultura da comida industrializada e outras reverberações do mundo moderno. “Trata-se de uma tentativa de retomar uma vida mais tranquila, em que se sabe o que se consome. Por conta disso, é um lazer libertador”, comenta.

Dinheiro, rock’n roll e rebeldia

Segundo o autor, o estudo possibilitou traçar um perfil dos cervejeiros artesanais: são homens brancos, de classe média ou alta, com 30 a 45 anos, formação universitária, emprego fixo ou negócio próprio. “Isso indica que produção de cerveja como prática de lazer é uma vivência factível somente para sujeitos que têm tempo, dinheiro e espaço disponíveis”, afirma Tomasi.

A aparência e a preferência musical também foram identificadas como elementos de coesão entre os produtores caseiros. “Normalmente, o cervejeiro tem barba, usa camisa simples, bermuda, chinelo ou tênis e ouve rock’n roll”, descreve o professor. Ele acrescenta que o fabricante artesanal se percebe como rebelde, na medida em que, ao produzir sua própria bebida, “nega aquilo que é dado como padrão”.

A realização do cervejeiro, como explica Tomasi, deriva do exercício de sua criatividade, na escolha do tipo e quantidade de malte, lúpulo e fermento, que determinam o sabor, a cor e o cheiro da bebida. “Ao conceber, por exemplo, um lote de cerveja para um churrasco de fim de ano, o cervejeiro pode planejar uma bebida leve, para ser degustada bem gelada. Essa referência é o primeiro passo para que ele operacionalize a festa”, ilustra.

Contradições

“Os produtores caseiros de cerveja têm uma leitura semelhante do mundo e outras questões em comum – no entanto, não costumam trocar informações de maneira completa. As receitas, em grande parte dos casos, são guardadas a sete chaves”, afirma Alessandro Tomasi, ao indicar uma contradição que permeia esse fenômeno social. Outro contrassenso, na visão do autor, reside no fato de a atividade, inicialmente associada ao lazer, passar a ser exercida com fins comerciais. “O sujeito, que a princípio produz para se contrapor à lógica industrial, costuma perceber que o produto pode gerar renda e, então, muda seu foco”, afirma o professor.

A apropriação exclusiva pelos homens é outra incongruência inerente à atividade. “Nas produções que acompanhei, o papel da mulher é secundário. Ela faz os cálculos dos insumos, cuida dos filhos ou prepara o almoço, enquanto o marido mexe no mosto (mistura destinada à fermentação alcoólica). O discurso dos cervejeiros é libertário, mas a mulher é deixada de lado”, constata.

Alessandro Tomasi revela que, durante a pesquisa, decidiu se tornar, também, um produtor caseiro. “Não era a ideia inicial, mas pensei que poderia ajudar a entender a cabeça dos cervejeiros”, justifica. O autor avalia que a prática tem papel transformador no pensamento geral a respeito da bebida. “Meu filho pequeno me vê fazendo cerveja desde que nasceu. Ele terá o entendimento de que a relação com a cerveja não deve ser danosa, ou seja, é viável beber pouco, mas beber melhor”, conclui. (UFMG)

* Informações do Diário do Poder

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