Quando pensei no plano de ação para a Cultura eu tinha em mente que qualquer atitude que eu tomasse deveria ouvir primeiro os mais interessados naquela proposta. Também não podia apresentar um projeto sem um esqueleto, flexível, que pudesse abrir a discussão. De nada adianta ouvir o outro se você não sabe onde quer chegar. Eu sabia onde queria ir, como iria e quando iria. Entretanto, e se o outro não quisesse nada daquilo que estava proposto? Então, recomeçaríamos do zero.

Todavia, você, na função de gestor precisa definir um conceito – ou melhor – você precisa agarrar-se a um conceito próprio de Cultura e a partir deste conceito estabelecer seu plano de ação. Se você entende Cultura da forma mais ampla e antropológica possível, sabe que tem muito trabalho pela frente. É preciso saber dialogar entre a dimensão antropológica – aquela que é extremamente simbólica e mexe com as atitudes, opiniões e conceitos da comunidade cultural e a dimensão sociológica que é o plano em que se estrutura e coloca-se em prática o que você está pensando. Ou seja, organiza o negócio. E, vocês sabem – e se não sabiam fiquem sabendo agora – artista não gosta desse negócio de organização, de preencher formulário, de criar portfólio, de criar release, etc. Artista que ficar no campo do simbólico, no campo da criação, da fruição das ideias. Essa parte de organizar, de colocar as coisas no lugar, deixa para os burocratas, os que nasceram para colocar conceitos e projetos no papel.

Ser um burocrata da Cultura – digo, um organizador da Cultura – requer experiência em elaboração, análise e julgamento de projetos e editais. Requer habilidade em mediar conflitos e soluções. Requer ainda a capacidade de compreender a dinâmica da arte e da cultura. É sabido que a Cultura tem uma dinâmica própria, bem diferente das demais dinâmicas da estrutura governamental.