Há muito que a máxima: Eu finjo que ensino e você finge que aprende se enquadra com perfeição na Educação brasileira. Sempre me perguntei se a gente vive de moda ou de manias. Moda do jeans, da minissaia, do cabelo liso, do vestido colorido, da sandália rasteirinha ou da mania de repetir métodos de aprendizagem que dão certo em alguns lugares, como o método Piaget, o método Montessoriano ou o método Tradicional, o mais comum de todos. Essa mania do brasileiro dizer amém para tudo, mania de cutucar o nariz, de coçar a cabeça, de coçar o saco. Moda e mania. Mania e moda.
Houve um tempo em que um aluno repetia a primeira, a segunda ou a terceira série do ensino básico, hoje Fundamental 1, quantas vezes fosse preciso até ele aprender as quatro operações, a diferença entre substantivo e adjetivo e a ler e escrever o próprio nome. E se dizia que ele, o aluno, em sentido coloquial, aprendia por osmose: Quanto é 2 + 2, Joãozinho? Quanto é 2 + 2, Joãozinho? Joãozinho, quanto é 2 + 2? E Joãozinho, pressionado, de olhos arregalados, coração querendo sair pela boca, certo de que a régua de quase um metro de comprimento, feita de jacarandá, de dona Cicinha, iria encontrar suas costas, respondia automaticamente: — 4, professora.
Mas, se a professora fizesse a pergunta de uma forma diferente, Joãozinho quebrava a cabeça.
— Quanto é, 2 X 2, Joãozinho? Quanto é, 2 X 2, Joãozinho?
E o pobre do Joãozinho não sabia responder porque não aprendeu a raciocinar, aprendeu a repetir, feito papagaio:
Dá o pé, louro! Dou não. Dá o pé, louro! Dou não.
Depois, se condicionou que o processo educacional deveria ter uma progressão automática ou uma progressão continuada. Para que o aluno não se sentisse incapaz. Que não ficasse para trás, que pudesse avançar como os demais, mesmo sem saber as quatro operações. Enfim, se ele teve dificuldades na conta de dividir, não tem por que impedir sua progressão se ele sabe somar e multiplicar. Vamos partir de onde ele parou no tempo. Mas aí, se confundiu uma coisa com outra e se espalhou que era preciso passar o aluno de qualquer jeito. E ainda veio uma lei que obrigava a promover o aluno sem as devidas competências. E o professor, revoltado, réu e vítima do processo de ensino e aprendizagem, fingia que ensinava e o aluno fingia que aprendia.
E o Sistema Educacional finge que tem uma Secretária. E a Secretária finge que tem professores. E os professores fingem que têm alunos. E os alunos fingem que tem merenda escolar. E as merendeiras fingem que fazem a merenda. E todo o sistema finge algo de alguma coisa que já está fingida. E o professor, coitado, refém do sistema, precisa fingir que ganha bem, que é preciso se filiar a um sindicato, que todos os seus alunos pensam da mesma maneira e que todo mundo no final do ano vai avançar feliz e satisfeito. E avança.
No fundo, nenhum dos métodos, por mais eficaz que algum deles possa ser, é aplicado em sua totalidade. Há sempre um momento em que o aluno se liberta por meio do conhecimento, quando o professor parte do meio cultural do aluno. Eis aqui o método Freiriano, tão criticado pelos conservadores.
O construtivismo, de Jean Piaget, diz que os conteúdos didáticos servem apenas de suporte para o aluno. Ele estimula o debate, a formulação de hipóteses, a resolução de problemas e o uso de vivências pessoais. Lindo!
Já o método Sociointeracionista, proposto pelo psicólogo russo Lev Vygotsky, afirma que o aluno só expande cultura, linguagem e raciocínio se estiver em contato com outras pessoas. E a pedagogia Waldorf que tem como princípio preparar o aluno para a vida, desenvolvendo clareza de raciocínio, iniciativa para ação, equilíbrio emocional e capacidade crítica? Por outro lado, o método Frenet reforça o conceito de que a escola deve ser menos teórica e mais conectada com a vida. Afinal, a educação deve preparar o aluno para a realização de um trabalho real.
Quanta coisa maravilhosa!
Na faculdade a gente aprende pelo método da Sala de Aula Invertida: o aluno faz suas próprias pesquisas na internet e em materiais online sobre temas passados previamente, e já chega em aula com conhecimento na bagagem, que é então debatido com professor e os colegas. Muito parecido com o método Ativo onde o aluno não fica só sentado ouvindo e anotando, ele debate, critica, faz. Ele ajuda a construir o conhecimento junto com o professor e com os colegas. Fantástico, não é mesmo?
Certamente, eu e você deve ter passado por um destes métodos.
Afinal, qual método funciona mesmo?
— Quanto é 2 X 2, Joãozinho?
E Joãozinho conta nos dedos:
— 1, 2, 3, 4! É 4, professora! — responde cheio de sorrisos.
— Como você descobriu isso, Joãozinho?
— Multiplicando.
— E o que é multiplicar?
— É somar de novo, de novo e de novo.
Como se chama este método mesmo?