O novo presidente da Fundação Nacional das Artes – FUNARTE afirmou em entrevista recente que os Beatles surgiram para implantar o comunismo e que o fascismo foi criado pela esquerda. Aqui eu abro um parêntese para explicar o que é o fascismo. O fascismo é uma ideologia política ultranacionalista e autoritária caracterizada por poder ditatorial, repressão da oposição por via da força e forte arregimentação da sociedade e da economia. Como uma ideologia assim poderia ter surgido da esquerda?
Semana retrasada o atual secretário nacional da cultura, diante de várias delegações estrangeiras afirmou em letras garrafais que “a arte brasileira transformou-se em um meio para escravizar a mentalidade do povo em nome de um violento projeto de poder esquerdista”. Nesta semana, o novo presidente da Biblioteca Nacional foi lembrado pela Folha de São Paulo que postou nas redes sociais que Caetano Veloso podia ser comparado ao analfabetismo ao escrever que “livros didáticos estão cheios de Caetano Veloso, Gabriel o Pensador, Legião Urbana. Depois não sabem por que está todo mundo analfabeto”.
Os caras falam em criar uma nova geração de artistas. Uma nova leva de intelectuais orgânicos que “também” precisam entender como funciona o sistema para se apropriar de seus recursos. Vamos financiar agora nossos projetos, nossas ideias, nossa ideologia. Eles querem combater a “ideologia reinante”com outra ideologia. E a estratégia é atacar a que deu certo para fazê-la parecer que é a errada. É como você tentar manchar a imagem de alguém honesto.
No entanto, como disse Vik Muniz, artista plástico de sucesso, “cada vez que você cria um inimigo cultural, você faz dele um herói. E aí você reforça suas convicções com sua base política”.
Não se espante se a política cultural de editais for extinta ou se o programa de cotas deixar de existir. Eis que surgirá uma nova ordem política de balcão, tipo a que acontece na maioria dos municípios brasileiros tendo como protagonistas a grande maioria dos vereadores. Eu mesmo já ouvi de agentes culturais, de edis e secretários que esta política cultural só serve para atrapalhar o processo. “Temos que ajudar quem nos ajudou! Não importa como”. Não podemos dar as mesmas oportunidades aos oposicionistas. Temos que ir na contramão do que é legal. A ordem é ser ilegal.
Tudo bem. Já se disse que o poder corrompe. É verdade. Mas não é uma regra. Na obra de George Orwell, em “A Revolução dos Bichos” aprendemos, entre outras coisas, que “a força física sem consciência política não significa nada”. Então, trazendo para a nova ordem cultural que está sendo imposta, sabemos que quem está no poder tem a caneta e o poder de fazer o que bem entender, correto?
Entretanto, apesar de mais fortes, e com a ideia (transformando-se em ideologia) que jamais tenham consciência de quem estão sendo dominados, ou levados, a esta nova ordem, você apela para o lado que não comeu o bolo, dizendo que eles agora devem ser egoístas. Portanto, a frase esquerdista: “tudo nosso e nada deles”, passa a ser ultranacionalista. Para quê complicar se podemos simplificar tudo?