Eu poderia começar meu ponto de vista de hoje com uma máxima que os leitores e ouvintes deste podcast semanal já devem ter ouvido: “Bandido bom é bandido morto”. Esta afirmação nos coloca numa situação em que as pessoas, lá no seu íntimo, desejam fazer justiça com as próprias mãos. Garanto que muita gente vibrou com o tiro certeiro do atirador de elite, que estava em cima daquele carro de bombeiro, na ponte Rio-Niterói. E, que o desfecho daquele sequestro não poderia ter terminado da melhor maneira. Ponto para a polícia, que a todo instante, soube conduzir as negociações. Se as coisas não estivessem sob controle o sequestrador não teria liberado alguns dos reféns. Concordam?
Por outro lado, vingar-vos a vós mesmos, nos coloca numa posição em que o perdão, independente do delito ou da falta que se tenha cometido, está longe de ser uma realidade. Os filmes americanos nos dizem o tempo inteiro, abertamente, que se você não usar de suas próprias forças não terá a justiça que deseja. No mundo em que vivemos quando se tem o orgulho ferido, a moral questionada e a humilhação constante, o melhor que se faz não é dar a outra face. Você tem que resistir ao perverso e se alguém te ofender com um tapa na face direita, dê-lhe um soco na esquerda. É ou não é assim?
Escuta o seguinte: “Quando cair o teu inimigo, não te alegres, nem quando ele tropeçar regozije o teu coração; para que o Senhor isso não veja, e seja mau aos seus olhos, e desvie dele a sua ira”(PV 24:17-18). Eu sei que não é fácil e ninguém, nem Jesus disse que seria, levar um tapa na cara e virar a face para receber outro. No fundo, o que ele queria nos ensinar é sobre o perdão. Mas a gente não sabe perdoar. A gente sabe remoer, maquinar, armar laço, rir da queda alheia, desejar a morte, guardar rancor, fazer o mal. A vingança não é sua! Entenda isso. O que se faz aqui, paga aqui. Não vai se pagar em outra vida.
Então, a partir de agora bandido bom não é bandido morto? Nunca foi nem nunca será. Bandido bom é bandido ressocializado! É bandido que vira mocinho. Mas como mudar este quadro SE ao invés de criarmos programas e políticas públicas para reeducar as pessoas, construímos mais presídios? Por que não criamos mais empregos, não fomentamos mais arte e mais cultura nas escolas, nas comunidades em situação de vulnerabilidade pessoal e social? Ao invés disso, o governo arrocha, afugenta as grandes empresas, cria licitações para beneficiar os amigos empreiteiros e ninguém pensa no povo. Povo bom, é povo que sofre. Se o povo não sofre, não faz sentido ter povo.
Você sabe quais foram as razões que levaram aquele cidadão – sim, um cidadão, um ser humano – sequestrar, ameaçar e apontar a arma para a cabeça daqueles outros cidadãos no meio daquela ponte? Eu também não sei. Talvez nunca saibamos. Isso é motivo suficiente para não desejar que ele pague pelo crime que cometeu? Também não. Em suma, o que eu estou tentando dizer neste curto espaço de tempo, é que a gente precisa ter mais amor no coração. Perdoar sem medida e fazer o bem até mesmo para aqueles que te aborrecem. A questão que se apresenta aqui não é defender bandido, mas, acima de tudo, defender o perdão.