A despedida de Paulo em Éfeso é para mim uma das passagens mais tristes dos Atos dos Apóstolos na história da igreja primitiva, descrita no Novo Testamento. Sobretudo, porque remete a uma partida sem volta. “E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o Reino de Deus, não vereis mais o meu rosto” (Atos 20:25b). Paulo passou três anos, noite e dia, repreendendo cada um deles. “E levantou-se um grande pranto entre todos e, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam, entristecendo-se muito, principalmente pela palavra que dissera, que não veriam mais o seu rosto” (Atos 20:37,38).
Enquanto a cura da COVID19 não chega, alguns se lançam no pescoço uns dos outros para, quando conseguem, se despedir dos seus entes queridos, de pessoas próximas, de um filho ou de um pai. Vivemos uma guerra estranha, onde as vítimas são escolhidas por uma roleta russa apontada para um idoso, um jovem, um trabalhador, um mendigo deitado sobre a calçada, um esportista, uma cantora ou uma criança. É uma guerra sem rosto, embora saibamos que os mais experientes, os mais velhos são colocados à frente como buchas de canhão, desprotegidos, fracos, vulneráveis.
A despedida de Paulo em Éfeso, é para mim o símbolo do “nunca mais”. Nunca mais te verei. Nunca mais sairemos juntos, de mãos dadas, a contemplar o mar sobre a areia fina da praia; nunca mais sentirei o cheiro do teu perfume, as tuas rabugices, os teus pedidos mais insólitos; nunca mais soltarei pipa com você, meu menino; nunca mais brincarei de esconde-esconde, bandeirinha, pega ladrão e pião!
A despedida pode ainda não ter chegado para você, mas, cedo ou tarde, a vida vai lhe mostrar que ela será uma experiência inevitável em seu caminhar.
Esta pequena crônica de hoje vai para você que precisou se despedir de alguém e, também, para você que ainda não passou pela dolorosa e angustiante experiência do adeus. Mas ela chegará. A vida é assim.