Os cães quando envelhecem adquirem sintomas comuns aos seres humanos. Os veterinários afirmam que a anatomia canina em muito se assemelha a anatomia e ao comportamento humanos. Neste sentido, quando envelhecem, os cães apresentam alterações na pele, surgem cáries e tártaros, mudança de peso, tumores, aumento de cansaço e sonolência, ficam cegos, desenvolvem incontinência urinária, mudam de humor, ficam desorientados e mais dependentes, alguns apresentam insuficiência renal e outros tossem excessivamente. Dão trabalho como todo ser humano. E o que a maioria dos seus tutores fazem? Eutanásia.
A antecipação da morte, também conhecida como eutanásia, é justificada por eles como sendo uma forma de abreviar o sofrimento do animal. Observe que se um cavalo quebra a perna, a primeira reação de quem o possui é a de eutanasiar. Dá trabalho cuidar de um cavalo que não consegue mais ficar em pé, então é mais fácil e mais barato tirar a vida dele. No entanto, a lei diz que “se a doença ou mal que acomete o paciente for curável, o ato de abreviar sua vida não será considerado como eutanásia, mas como homicídio, conforme descrito no artigo 121 do decreto lei 2838/40 do Código Penal. Sendo assim, a eutanásia em si não está prevista na legislação brasileira” quando se trata do ser humano.
E o que diz o Conselho Federal de Medicina Veterinária em sua Resolução nº 1000/12? A eutanásia de animais é um procedimento clínico e sua responsabilidade compete privativamente ao médico veterinário. Aos olhos da Lei Estadual nº 8050/18 do CRMV-RJ, a eutanásia não traz nenhuma novidade à rotina prática da Medicina Veterinária.
Você já pensou se com os seres humanos a reação de seus filhos e parentes fosse o mesmo quando alguém começa a dar trabalho? Observe: Pedro quebrou o fêmur. Vai ficar muito tempo em cima da cama. Ele tem 60 anos e precisa de cuidados especiais. Alguém terá que ficar com ele para levá-lo ao banheiro, alimentar, dar banho, trocar de roupa. Pedro vai dar trabalho e custar muito caro. Então, vamos eutanasiar Pedro, correto? Não!
Lívia esquece sempre a data de seu nascimento, faz sempre a mesma pergunta várias vezes, mal sabe o dia da semana em que estamos e sempre faz xixi nas calças. Lívia, com quase setenta anos, reclama de tudo; xinga, berra, quer comer toda hora. Lívia dá trabalho. Seus filhos decidem eutanasiar Lívia para se verem livres deste infortúnio. Quantas Lívias existem por aí que os filhos não queriam se ver livres se a eutanásia fosse legítima nos seres humanos como é no reino animal?
Sei que parece radical esta comparação, sobretudo por se tratar de um animal que não pensa como o ser humano. Mas só por isso ele deve ter a vida abreviada porque seu tutor não vai ter tempo de cuidar dele até que morra de velhice e sem dor? Claro que há casos e casos.
Três animais nossos tiveram botulismo. Pense numa doença miserável que quatro entre cinco veterinários dizem ser o fim do animal. É uma doença causada por uma toxina produzida por uma bactéria que está presente no solo e em alimentos contaminados e mal conservados. “Quando há infecção, o animal tem a chamada paralisia flácida e, posteriormente, paralisia dos membros, além de dificuldade para engolir, parada respiratória e a morte”. Os animais ficam como mortos. Apenas conseguem sacudir o rabo e mal conseguem erguer a cabeça. Minha esposa, que é veterinária, pediu licença do trabalho para cuidar dos animais. Comida na boca, massagem muscular continuamente, medicação intravenosa diária. Foram quase três semanas de tratamento.
Hoje, meu mais velho, Caçulinha, tem 14 anos; a cadela Kita tem 11, mas o terceiro sobreviveu por um tempo, mas algumas sequelas foram irreversíveis e ela morreu. Assim como minha esposa, muitos tutores de pets optam pelo trabalho, pelo cuidado, pela cura, mesmo que pareça impossível. Para estes, a eutanásia é a última escolha, uma carta fora do baralho.
Lembre-se, seu fiel amigo esteve com você na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Mesmo quando você expulsou ele e segundos depois ele voltou abanando o rabo. Opte pela vida!