Permitam-me indagar sobre o nosso momento:
O “homem cordial” brasileiro, a quem Sérgio Buarque de Holanda conceituou, apresentava duas facetas, pelo menos: uma positiva e outra negativa. Vamos falar da positiva. Segundo o historiador brasileiro, “a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência [...] ela é antes um viver nos outros”
Essa vida em sociedade que o homem cordial buscava revela uma vida não egoísta, isto é, uma vida que conta com a participação do Outro; uma vida na coletividade. Não obstante, esse homem cordial demonstrava pavor, segundo Sérgio Buarque, de viver consigo mesmo, nesse sentido, me pergunto: aonde está esse homem cordial brasileiro na pandemia? Aonde está esse homem que não é egoísta? Aonde está esse homem que preservaria a vida do outro, em nome da sua generosidade de não viver só?
Não sei! Talvez seja tarefa nossa redescobrir esse homem cordial, que um dia encantou os europeus.