A Revolução Industrial, segundo a teoria do historiador Eric J. Hobsbawm, tem seu início em 1780, na Grã-Bretanha, embora as experiências de cunho inovador tenham se iniciado no século XIII. O fato é que o seu boom se deu nesta época sob o ritmo da produção de algodão que, segundo Hobsbawm, seguiu como a principal força produtora até 1830, dominando a indústria de “alimentos, bebidas, cerâmicas e outros produtos de uso doméstico”. Esse é um dos exemplos que ajudam a compreender o contexto da Europa no século XVIII: uma população burguesa dedicada a produzir e a consumir utensílios que pudessem causar, imediatamente, uma diferenciação entre ricos e pobres, isto é, roupas derivadas do algodão.
Porém, durante os anos 1830 a 1840, a economia capitalista industrial sofre sua primeira crise: “suas mais sérias consequências foram sociais: a transição da nova economia criou a miséria e o descontentamento, os ingredientes da revolução social”. Ela ocorreu devido à insatisfação social acerca das condições trabalhistas, haja vista que os trabalhadores possuíam uma carga horária elevada, não recebiam as remunerações de férias semanais e, sobretudo, sofriam com a queda dos salários de modo progressivo. Uma vez que o advento da indústria imprimiu este ritmo nas relações trabalhistas (afetando diretamente a construção de uma sociedade e, principalmente, a vida humana, tendo em vista o número de mortes neste período), ela viabilizou a construção do desajuste social proporcionando a sua injustiça.
Essa crise foi uma das causas da injustiça social que hoje, segundo Hobsbawm, não se encerrou e, por esse motivo, “não tem sentido perguntar quando se completou, pois sua essência foi a de que a mudança evolucionária se tornou norma desde então. Ela ainda prossegue”.
De fato, os efeitos da Revolução Industrial se estende a partir de outras veias, haja vista que lá, pobres e trabalhadores ficavam em segundo plano não só no acesso das roupas de algodão, mas na distribuição de renda, tal como nos nossos dias pandêmicos: fim do auxílio, aumento da pobreza e fome, desemprego aumentando e falta de imunizante, por exemplo. Enquanto isso, a classe burguesa endossa os caprichos políticos (troca do presidente da Petrobras) e amplia os danos (como o pontapé à privatização da Eletrobras). O neoliberalismo nos faz reviver tempos terríveis como o citado; e mais do que reviver, essa constatação faz gente morrer.