Eusínio Lavigne foi um político além do seu tempo. Soube, como nenhum outro, ver a Ilhéus do futuro. Pesquisadores e historiadores são unânimes em afirmar que prefeito, tal qual, Eusínio Lavigne, nunca mais tivemos. “Eusínio foi um mito, como ele, só em 100 anos”, dizia meu pai em seu senso comum ao falar de personalidades inigualáveis na arte, no esporte e na ciência, como Pelé, por exemplo. Se meu pai estivesse correto em sua profecia, prefeito semelhante a Eusínio Lavigne só seria eleito em 2036 e passaria a administrar a quincentenária Ilhéus já com seus 503 anos de fundação, em 2037, o que corresponderia aos cem anos a partir do último ano de governo de Eusínio Lavigne, em 1937.
Carlos Pereira Netto, em seu artigo “Eusínio Lavigne, um ilheuense”, publicado há alguns anos, chama o cacauicultor, jurista, político, escritor e jornalista de “mestre humanista”, ao tomar emprestado o título dado ao ex-prefeito de Ilhéus do historiador Nelson Werneck Sodré. E, por falar em Nelson, eis que Ilhéus teve a honra de possuir entre os mais ilustres professores da sua história, o futurista Nelson Schaun que já previa o aproveitamento do cacau na economia doméstica. Por sinal, este é o título do artigo que publicou em 8 de dezembro de 1940 onde chamava a atenção do desinteresse nacional pelo consumo do chocolate. “Só se pode compreender essa situação por dois fatores: ou a falta de conhecimento, ou a falta de iniciativa”.
Foi a confreira Maria Schaun quem me apresentou às crônicas de Nelson Schaun, com textos muito além de seu tempo, ao me presentear com o livro “Nelson Schaun Merece um livro”, publicado pela Editus, em 2001, e depois reeditado em edição especial na inauguração do Centro Estadual de Educação Profissional do Chocolate Nelson Schaun, em 2018.
Em tempos sombrios como o que vivemos, eis que as crônicas de Nelson se tornam mais atuais do que nunca. Em “Ao Povo de Ilhéus”, publicada em 10 de junho de 1947, o cronista faz uma grave denúncia contra a liberdade de imprensa ao saber que a sede do jornal O Momento foi barbaramente vandalizada. “Temporariamente estamos sofrendo um recuo no nosso processo democrático. Assim, é que assistimos a atos atentatórios à Constituição serem perpetrados. E, porque O Momento, como um órgão da imprensa popular, vinha denunciando esses crimes, provocou a sanha reacionária de alguns elementos do grupo fascista já referido, que invadiram e depredaram esse vibrante órgão da imprensa baiana, ferindo a liberdade de imprensa e praticando, assim, mais um atentado à Constituição. Contra esse ato de vandalismo, estão todos os democratas e toda a imprensa do país”.
Eusínio Lavigne e Nelson Schaun, foram, grandes intelectuais desta terra. Cabe-nos, sempre que a oportunidade se fizer presente, trazê-los à memória para que seus ensinamentos se perpetuem.