Aguarde, carregando...

O Tabuleiro

Marcolino Reis

Marcolino Reis

QUANTO VALE SUA VIDA ILHEENSE?

Nos semáforos de ilhéus costumávamos pedir oferta e doações com uma pergunta: “Quanto vale uma vida pra você?”. Essa era a porta de entrada para evangelizar e arrecadar dinheiro para pessoas recém chegadas na igreja pudessem ir a um encontro, uma espécie de retiro espiritual.

Com essa mesma pergunta, com muita sinceridade vamos refletir sobre a reabertura do comércio, retorno das atividades do transporte coletivo previsto para breve e a autorização do funcionamento de cultos nas igrejas.

Primeiro dizer que a maioria das igrejas bairro a bairro estava e continuam em funcionamento. Quem tem olhos, via.

Dizer é compreender a dinâmica de autogestão que comporta se a comunidade evangélica em ilhéus. Algo semelhante a milhares de outras país adentro.

Sobre o retorno das atividades dos ônibus, é uma falta de respeito, da parte dos empresários forasteiros que comem dinheiro no transporte coletivo, arrecada cem por cento a vista de toda pessoa que usa, tem um capital de giro a vista e milionário mensal pago com dinheiro de nossos impostos (como consta no portal da transparência da prefeitura com o repasse dos cartões de servidor). Querer, exigir indenização pelas semanas de quarentena? Indenizar por um transporte de qualidade duvidosa e passagem elevada ilegalmente como investiga a Defensoria Pública? É querer demais não?

Se a prefeitura tiver que indenizar empresa, teria que ser as empresas do município que tiveram que demitir trabalhadoras e trabalhadores que agora estão sem saber como vão sobreviver sem seus empregos. Inclusive o quase milhão de reais que a Defensoria Pública pede ás empresas pagarem de indenização pelo aumento ilegal da passagem, deve servir para uma renda básica emergencial municipal a essas trabalhadoras e trabalhadores. Uma redução salarial dos cargos de primeiro e segundo escalão da prefeitura e câmara de vereadores deve estar em um fundo, ser dinheiro destinado a essas trabalhadoras mães de família que estão sem saber o dia do amanhã.

Cortar cinquenta por cento de salário de professores, retirar direitos trabalhistas de servidores públicos é a solução que a prefeitura encontrou para diminuir as problemáticas do coronavirus na cidade? Estranho essa solução.

Durante entrevista concedida à Rede Bahia, quando avaliou a situação da Covid-19 no estado, o secretário de Saúde disse que a reabertura do comércio de Ilhéus não tem o apoio do Governo do Estado. A quem interessa o funcionamento das lojas?

O que precisa para diminuir a contaminação? Continuar com o isolamento forte principalmente nos municípios de maior volume de contágio. Isso inclui ilhéus, feira de Santana, Camaçari, Itabuna, Ipiaú, Jequié, Lauro de Freitas e Candeias. É o que diz o governo do estado.

A pergunta da vez é “quanto vale uma vida pra você?”. É fácil da uma pesquisa na internet e encontrar os erros das cidades que reabriram. O dito popular inteligente aprende com seus erros e o sábio com os erros dos outros está sendo ignorado pela prefeitura. Errar agora pode custar mais vidas, mais pessoas mortas e mais famílias em sofrimento.

Tomemos as universidades UESC, UFSB, os institutos IFBA e SESI e as dezenas de colégios e escolas como parâmetro. Se esses lugares de aglomeração que poderiam ter uma dinâmica de controle, estão sem funcionar, por que o comércio deveria? Imagine a quantidade de roupas, sapatos, sacolas, produtos diversos que irão contaminados para dentro das casas. A circulação do vírus eminentemente será maior. O médico Carlos Magno Fortaleza, médico infectologista e membro da diretoria da SPI (Sociedade Paulista de Infectologia) alerta essa real possibilidade. O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos é a fonte do médico. O que realmente é essencial para a câmara de vereadores de ilhéus e a prefeitura para autorizar essa catástrofe anunciada?

O poder público decidir quem morre e quem vive, na Ciência Social, Achille Mbembe, classifica como Necropolítica. É o que a prefeitura e câmara de vereadores decidiram. Adotar a Necropolítica. É Eugenismo contemporâneo.

Nas redes sociais o Observatório Covid-19 BR, iniciativa independente de pesquisadores com o desejo de contribuir para a disseminação de informação de qualidade baseada em dados atualizados e análises cientificamente embasadas, compartilhou o suficiente para conclusão de que a reabertura do comércio em São Paulo é abrir durante o crescimento da pandemia em meio a proximidade do controle. Ilhéus, que tem equivalência de óbitos por habitantes, maior do que a média nacional, Ilhéus que é uma das três em número de cidadãos residentes na cidade, mortos pela doença COVID-19, perdendo apenas para a capital, salvador. Ilhéus que tem poucos leitos. É essa ilhéus que a prefeitura com a câmara de vereadores, através do gabinete de crise reabre o comércio rumo ao caos.

Um momento de crise como esse, deve servir para propor soluções. Não podemos mais aceitar que nosso município seja guiado pelo individualismo e lucro acima da vida. Por isso precisamos de propostas e iniciativas que colocam a vida acima do lucro com foco na vida coletiva. Enquanto países do mundo inteiro garantem uma renda mínima básica para que as trabalhadoras e trabalhadores possam sobreviver durante a pandemia, o governo Bolsonaro, demora meses pra liberar um auxílio emergencial de 600 reais. O valor é minguado. A burocracia pra receber é grandiosa. E muita gente está ficando de fora. Portanto, não basta o isolamento social. É preciso condições pra que as pessoas fiquem em casa. Reabrir comércio é favorecer bem mais os donos das lojas que ficarão em seus confortos longe da contaminação. Reabrir o comércio é seguir a política equivocada bolsonarista. Aos trabalhadores e trabalhadoras de ilhéus é necessária e urgente a criação da renda básica ilheense. Os vereadores precisam aprovar na câmara a renda básica ilheense como está feito no rio de janeiro com a aprovação da renda básica carioca. Essa renda complementará a renda básica emergencial do governo federal até um salário mínimo. O Coronavirus é o problema, já sabemos, o que precisamos é a construção coletiva das soluções. Aprovar a Renda Básica Ilheense, é dignidade acima da vida, é CPF acima do CNPJ e o inicio da resposta para a pergunta: Quanto vale sua vida ilheense.

* O autor Marcolino Vinicius Vieira é Ilheense, Trabalhador do Comércio, Conselheiro Municipal de Trânsito e Transporte pelo Sindicato dos Comerciários, graduando em Gestão Pública pela Universidade Salvador, Bacharelando em Humanidades pela Universidade Federal Internacionalista (UNILAB) e Evangélico Coordenador Nacional dos Cristãos Contra o Fascismo.

Por: Redação O Tabuleiro
Dia 03/06/2020 14h31

Veja mais colunas de Marcolino Reis:

Confira mais artigos relacionados e fique ainda mais informado!