Eu não sei se é uma característica peculiar ao Município de Ilhéus ou se é uma prática do ser humano estabelecer um rótulo para as pessoas. E leia-se rótulo uma marca atribuída àquele indivíduo que se destaca ou que é anônimo. Afinal, até os anônimos são observados. Assim, se existe um cara que, pela experiência de vida, sabe que determinada sociedade, aproximação ou um simples observar do outro não vai dar certo, ele é rotulado de sabichão. É balela esse negócio de que se deve “aprender com os mais velhos”, porque você não aprende, rotula, dizendo que isso foi no seu tempo, no seu momento e que a história e as coisas hoje são de outra maneira. Eu sei que nem todo mundo pensa assim, mas, no fundo, tudo descamba para o senso comum.
Acontece, que o ser humano é o mesmo ontem, hoje e sempre. Características como caráter, personalidade, coerência ou perseverança, não mudam. As virtudes serão sempre as mesmas e terão o mesmo significado em qualquer época da história.
Neste contexto, eu prefiro manter o distanciamento. Mas um tipo de distanciamento teatral. Aquele que o dramaturgo alemão Bertold Brecht associou a uma série de procedimentos dramáticos, como a dissociação, por exemplo, entre ator e personagem. Manter distância e se envolver menos, você consegue fazer uma análise crítica frente ao que acontece. Neste caso, entre você e o fato observado ocorre uma espécie de estranhamento. Como escritor, consigo ver isso muito bem. Como artista do palco consigo me colocar no lugar do outro e faço a minha interpretação da situação. Agindo assim, você consegue sempre estar um passo a frente. Você antever o problema. Ou seja, enxerga o que os outros não conseguem enxergar. E não se trata aqui, vale salientar, de julgamento, mas de constatação. Se é que posso me fazer compreender, caro ouvinte, caro leitor.
Antever, é uma característica dos artistas da palavra ou dos artistas das demais artes? Sim e não. Há, também, pessoas que não são artistas, mas são sensíveis a estes fatos, tornando-as prestidigitadoras da vida. Não é que eles adivinham ou pressentem, mas, como afirmei no início, a experiência e o resultado de situações semelhantes sempre caminham para o mesmo lugar.