Paulo Freire dizia que “todo ato de educar é um ato político”. Pablo Picasso afirmou que “todo ato de criação é, antes de tudo, um ato de destruição”. E eu acredito que “todo ato de independência é um ato de afronta”. Ela pode até não ter a intenção de ser uma afronta, mas se torna a partir do momento em que o outro adquire a independência. A afronta tem sentido literal para o afrontado. Aquele que perde o controle, a dominação, vê no ato da independência um insulto. É como se fosse uma atitude pública de desrespeito e de ultraje.
Afinal, o que é a independência? Seria uma resposta fácil se ela não tivesse relação com a desassociação de um indivíduo em relação a outro, do qual dependia ou era por ele dominado. Ser independente significa afirmar que o indivíduo se libertou de outro alguém e adquiriu sua autonomia. Só que a questão toda está na desassociação, no afastamento, na liberdade. O indivíduo agora tem uma nova convicção, cria suas próprias concepções, como se destruísse alguns alicerces construídos pelo outro.
Muitas pessoas não estão preparadas para aceitar que a independência é uma necessidade primaz do ser humano. O filho quer trabalhar, quer sair de casa, que construir sua própria família, quer ter seu próprio dinheiro, quer fazer e comprar as coisas que ele deseja. Não deve ser fácil, para muitos filhos, viver às custas dos pais. E, muitas vezes, os pais sentem a necessidade dessa dependência. Para alguns, é a forma de ter o controle, de achar que o outro é seu.
A independência é também um ato de afronta para o homem em relação a mulher. Muitas delas que adquirem independência causam certo estranhamento aos homens. Sobretudo, os que são dominadores, donos de si. É difícil para uma sociedade machista, aceitar a independência feminina. Muitos aceitam, mas não admitem que a mulher, empoderada, toma as rédeas de uma situação e resolve.
Na política, um ato de independência política, sem necessidade de coligações ou conchavos, deveria ser visto com bons olhos, mas, é visto como um problema. Primeiro porque, sozinho, o cara não consegue governar. Precisa do outro. Tudo bem, isso causa uma relação de dependência escatológica. No trabalho, o servidor, independente, é visto como um funcionário estranho, metido, incapaz de trabalhar em equipe. O que é um erro.
Ver um setor independente, alcançar resultados, produzir conteúdo, emplacar conceitos, é uma enorme afronta para aqueles que trabalham em um ambiente centralizador. Que dirá de um país, um estado ou um Município que resolve ser independente? A independência se dá a partir da decisão de um afastamento de um estado de dependência. A gente precisa entender que a independência é um ato político, um fim de uma relação, a segurança de quem crer que é capaz de fazer, sem esperar pelo outro. Veja, por exemplo, a criança que começa a andar quando ela é solta na calçada. Ela começa a correr sem medo de cair. A gente ensaia a independência desde pequeno. Porém, infelizmente, o medo tem aprisionado pessoas, grupos, movimentos e cidades. Lembre-se: A afronta é um ato de coragem. E todo ato de coragem, é um ato de liberdade. E, liberdade, outrora, até se comprava. Hoje, se conquista.