
O que eu posso dizer de um cara que escreve um verso assim:
Caía a tarde feito um viaduto/E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos/A lua, tal qual a dona de um bordel/Pedia a cada estrela fria um brilho de aluguel/E nuvens lá no mata-borrão do céu/Chupavam manchas torturadas/Que sufoco/Louco
Aí depois chega outro cara e diz:
O aço dos meus olhos, o fel das minhas palavras/Acalmaram meu silêncio mas deixaram suas marcas/Se hoje sou deserto é que eu não sabia/Que as flores com o tempo/Perdem a força e a ventania vem mais forte/Hoje só acredito no pulsar das minhas veias/E aquela luz que havia em cada ponto de partida/Há muito me deixou, há muito me deixou.
E, de repente, um baixinho lá dos anos 70 saiu com um Grito de Alerta e diz:
Primeiro você me alucina/Me entorta a cabeça/E me bota na boca um gosto amargo de fel/Depois vem chorando desculpas/Assim, meio pedindo/Querendo ganhar um bocado de mel/Não vê que então eu me rasgo/Engasgo, engulo, reflito e estendo a mão/E assim nova vida é um rio secando/As pedras cortando e eu vou perguntando/"Até quando?"/São tantas coisinhas miúdas/Roendo, comendo, arrasando/Aos poucos com o nosso ideal/São frases perdidas num mundo/De gritos e gestos...
Rapaz, que baixinho abusado. Tão abusado que o outro chegou e...
Tirou partido de mim, abusou/Mas não faz mal/É tão normal ter desamor/É tão cafona sofrer dor/Que eu já nem sei/Se é meninice ou cafonice o meu amor/Se o quadradismo dos meus versos/Vai de encontro aos intelectos/Que não usam o coração como expressão/Você abusou
Como é que ainda tem gente não consegue ver a poesia nestes versos, nestas canções que marcaram uma geração?
Nem sei porque você se foi/Quantas saudades eu senti/E de tristezas vou viver/E aquele adeus, não pude dar/Você marcou em minha vida/Viveu, morreu na minha história/Chego a ter medo do futuro/E da solidão, que em minha porta bate/E eu/Gostava tanto de você
Que posso mais dizer se...
Meu olhar se perde na poeira desta estrada triste/Onde a tristeza e a saudade de você ainda existe/Esse sol que queima no meu rosto um resto de esperança/De ao menos ver de perto seu olhar que eu trago na lembrança.
Hoje foi de poesia. Das músicas que marcaram a minha geração. No fundo...
Eu sou apenas um rapaz latino-americano/Sem dinheiro no banco sem parentes importantes/E vindo do interior/Mas trago de cabeça uma canção do rádio/Em que um antigo compositor baiano me dizia/Tudo é divino tudo é maravilhoso.
Pensando bem, sou mesmo um sujeito de sorte.
Presentemente, eu posso me/Considerar um sujeito de sorte/Porque apesar de muito moço/Me sinto são, e salvo, e forte/E tenho comigo pensado/Deus é Brasileiro e anda do meu lado/E assim já não posso sofrer/No ano passado/Tenho sangrado demais/Tenho chorado pra cachorro/Ano passado eu morri/Mas esse ano eu não morro.
Letras das canções, por ordem de aparição:
O bêbado e o equilibrista
Compositores: Aldir Blanc Mendes /João Bosco De Freitas Mucci
Noturno (Coração alado)
Compositores: Grachho Silvio Braz Peixoto Silva / Caio Silvio Braz Peixoto Silva
Grito de Alerta
Compositor: Luiz Gonzaga Do Nascimento
Você abusou
Compositores: Antonio Carlos Marques Pinto /Jose Carlos Figueiredo /Ehud Manor
Gostava tanto de você
Compositor: Edson Trindade
Sentado à beira do caminho
Compositores: Erasmo Esteves /Ben Molar /Braga Roberto Carlos
Apenas um rapaz latino-americano
Composição: Antônio Carlos Belchior
Sujeito de sorte
Composição: Antônio Carlos Belchior