Geralmente, no Brasil, os alhos se misturam com os bagulhos no campo político. Não é pra menos, afinal, somos um país que demoniza e desacredita do rito político. Nesse sentido, a maioria dos nossos governantes refletem àquilo que nós alimentamos sistematicamente, ou seja, política é a gerência daquilo que eu odeio conversar, mesmo precisando desses resultados.

Sendo mais claro: eu dou pouca importância para os meios, porque o que me interessa é o fim da discussão, ou seja, pouco me importa a questão do meio ambiente, eu só preciso de água e alimento na mesa; pouco me importa a política internacional, eu só preciso de pão para comer (mal sabendo que pão é trigo e trigo é dólar).

Isso vicia a classe política, de modo que a maioria não se importa em jogar o jogo como deve ser jogado: clareza, debate, controvérsia, proposta, contra-proposta etc. Para eles, importa o fim: e o fim, para eles, é jogar para torcida.

É nesse sentido que o debate sobre a vacina da COVID-19 ganha aspecto de circo, cujo palhaço somos nós. Isso porque, um assunto tão delicado, que envolve vidas, é discutido como quem discute a construção de uma rodovia. Não adianta! A classe política brasileira tem preguiça e não foi treinada para dar conta das complexidades de um assunto como imunização de um vírus, visto que, nesse debate, o que deve prevalecer é argumento, prova científica e literatura acadêmica.

Portanto, para o bem ou para o mal, o assunto da vacina deve ser tratado como uma vacina e não como uma discussão política sobre a construção de uma rodovia. E, se porventura, nossos políticos não conseguirem dar conta da tarefa, que tenham humildade de nomear especialistas para o debate, tal como fez o presidente Rodrigo Alves, no início do século XX, ao nomear o médico Oswaldo Cruz na crise sanitária que vivia o Rio de Janeiro.