Não regularmente, mas sempre que posso, faço algumas oficinas sobre ética. E, ao falar de ética, inevitavelmente, acabo entrando no campo das virtudes. Pois bem, certa vez, ao desenvolver esta oficina com um grupo de trabalhadores que almejavam galgar mais um degrau dentro da empresa eu propus uma lista onde apareciam ações como Responsabilidade, Compromisso, Respeito, Honestidade e Fidelidade. Em seguida, pedi que eles enumerassem de 1 a 5, por ordem de importância, aquelas características que deveria possuir um trabalhador.
A nota máxima dada a palavra “responsabilidade” foi 5. Nada mais justo. Ser responsável, segundo o dicionário é aquele que responde pelos seus próprios atos ou pelas ações de uma outra pessoa, como o chefe de um setor, por exemplo; ser responsável é aquele que assume suas obrigações, que cumpre as determinações da empresa, que cumpre horário, enfim. Depois vieram as demais notas: Compromisso, tirou nota 4; Fidelidade, nota 3; Respeito, nota 2. E, honestidade, nota 1. Levei todas as notas ao quadro de giz e discutimos. Falei da importância de cada uma daquelas virtudes. Criei situações na empresa de compromisso, responsabilidade, fidelidade. Propus um jogo sobre respeito e outro sobre honestidade.
Após uma longa discussão sobre a questão, fiz novamente a dinâmica e pedi que eles, agora com uma visão mais ampla de todas aquelas virtudes que dessem nova nota a cada uma daquelas ações. Novamente, responsabilidade tirou a nota máxima: 5! Fidelidade pulou para 4; Compromisso ganhou 3; respeito tirou 2 e honestidade não saiu da nota 1.
Vivemos numa sociedade em que os valores foram invertidos. Por mais que se propague que SER HONESTO é uma das maiores virtudes que o ser humano pode possuir. Honestidade virou sinônimo de VERGONHA. Para a grande maioria das pessoas, é vergonhoso ser honesto. Devolver dinheiro que recebeu a mais, gritar uma pessoa na rua dizendo que o dinheiro dela caiu é proibido, é ser besta. Vivemos uma ruína moral que só se alarga. As pessoas precisam compreender que a técnica, o saber, é bom, mas a ética e os bons costumes ainda possuem lugar no campo de trabalho. São as virtudes, sua maneira de ser e agir que atestam o tipo de profissional que você é ou será no futuro.
Esta ruína moral, de que tanto falou Rui Barbosa[i], teve início com a proclamação da República, fez triunfar as nulidades, a desonra, a injustiça. Como ele mesmo disse, “de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...”
Naquela época, assim como os dias de hoje, os grupos estão a mercê dos partidos, da ação dos governos, da prática das instituições. E Rui ainda dizia mais: “Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmos vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando. Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente”.
Se minha avó Anita ainda estivesse viva, certamente diria o que muitos de vocês já devem ter ouvido: “Este mundo está perdido!”. No entanto, o que nos faz acreditar um pouco mais na vida, e nas pessoas, é saber que pessoas honestas, que trabalhadores honestos, relacionamentos honestos, ainda existem. E é neles que devemos cultivar a fé.