Ontem o Brasil registrou a pior marca: 1.726 vidas. Aliás, infelizmente, o país vive o pior momento desde o início da pandemia. Entretanto, por coincidência ou não, os números piores se apresentam no momento em que a maioria da população normalizava o dia-dia.
O paradoxo se estabeleceu na medida em que os serviços já se estabilizavam, inclusive, as escolas já se preparavam, a pandemia piorava, mas a vacina figurava no cenário. O povo pensou: temos vacina, o drama acabou!
Mais uma vez, as autoridades parecem não explicar bem os processos científicos, neste caso, da vacina, de modo que o povo, bastante confuso, se alimenta do que pode e, na maioria das vezes, são informações falsas vindas de aplicativos de mensagem.
Há um drama: fome, desemprego e dívidas.
Não há dúvidas e não há como negar esse contexto, o qual necessita de intervenções centrais do Estado, porém, o Estado (leia-se o governo federal) faz o povo crer que a melhor forma de ação e ajuda é simplesmente não estabelecer decretos. Vida que segue!
Vejamos uma coisa: foi a vida normal que nos trouxe até aqui: 1.726 vidas perdidas em um dia, mais uma variante de maior dano.
Permita-me explicar: Este artigo não é para falar sobre a validade de um lockdown ou de um decreto, mas, de forma muito prática, mostrar como as engrenagens políticas produzem uma divinização do Estado, ou seja, mostrar que diante do pior momento da pandemia a maioria da população não coloca o Estado na parede e exige um auxílio, pelo contrário, prefere correr os riscos.
Em filosofia, essa ação política, nós chamamos de necropolítica, isto é, a ação que se desenvolve a partir da morte do outro, ou melhor, uma ação que não evita a morte.
Definitivamente, esse artigo serve para elucidar nossa história e mostrar que: nós temos necessidades, temos anseios, temos projetos, mas temos vidas ameaçadas. Mostrar que precisamos, de uma vez por todas, parar de olhar para o Estado como se ele fosse um deus que não pudesse ser exprimido ou questionado, como se ele não pudesse fazer sacrifícios.