Recentemente a cidade vizinha de Itabuna trouxe à tona mais uma vez o debate sobre a zona azul. Para quem não sabe o que significa, estamos falando de uma concessão do serviço de estacionamento em determinados endereços da cidade, geralmente na área central. Nesta coluna vou destacar alguns pontos para reflexão para melhor entendimento do que é gerenciamento da mobilidade urbana na prática.
Enquanto muitas pessoas reclamam de pagar para parar o seu veículo particular no espaço público, em outros países está simplesmente proibido parar o automóvel em vias públicas nas áreas centrais. Se a pessoa tem um carro, ou usa a garagem própria da residência ou usa os estacionamentos, quer públicos quer privados, que geralmente são caríssimos.
E aqui entram duas questões fundamentais: o espaço é público mas não é gratuito. Ele custa e custa bem caro. Quanto fica comprar um pedaço de terra (terreno) no centro da cidade. Imaginaram o valor? Pronto. Agora imagina que você pega esse valor todo e em cima coloca uma máquina parada o dia inteiro que não produz nada e não permite que quem queira produzir utilize o espaço. Neste sentido, a Zona Azul traz um nível mínimo de democratização do espaço, pois ao cobrar pelo tempo estacionado, as pessoas que são donas de automóveis tendem a deixá-lo parado por menos tempo, o que gera mais oportunidade de uso por outras pessoas. No entanto, como eu disse, a questão é mais profunda e complexa do que parece.
Por que ao invés de dispor de uma faixa para carros pararem, não ampliam a calçada para permitir e melhorar a mobilidade a pé e dando mais segurança aos pedestres? Em Itabuna, assim como Ilhéus, por exemplo, a gente sabe que na maioria dos lugares mal se consegue andar nos passeios, tanto pelo estado de conservação, quanto pela largura. E aí, fica a pergunta: para quem é o espaço nas cidades, dos carros ou das pessoas? A favor ou contra a roda da economia? Portanto, falar de mobilidade é falar de gestão não só das pessoas mas também dos espaços que permitem as pessoas acessarem as oportunidades na cidade. Enquanto o proprietário de um bem particular puder pagar para deixá-lo no espaço público, bem de muito valor, ele está no lucro. E a sociedade no prejuízo.
Para finalizar, deixo meu tributo a Jaime Lerner, falecido na semana passada, grande arquiteto e idealizador de projetos de mobilidade urbana que elevaram a qualidade de vida em cidades como Curitiba mas que servem de referência positiva para o mundo inteiro. Jaime fez uma fala que combina muito com a coluna de hoje: “o carro é o cigarro do futuro”. Sei que muitos questionamentos podem surgir a partir desta coluna e esta é a ideia. Nos chamar à reflexão.
Eu sou Peolla Paula Stein, especialista em mobilidade urbana para a Ilhéus FM.